sábado, 11 de junho de 2011

OXI - A Nova "Modinha"

Por Fillipe Schmidt

     Desde a década de 1980, distante dos grandes centros brasileiros, o estado do Acre convive com a destruição produzida pelo oxi (preste atençaõ que está não é uma droga recente), uma mistura de pasta-base de cocaína, querosene e cal virgem mais devastadora do que o temível crack. A droga, vendida no formato de pedra, ao valor médio de 2 reais a unidade, vem se popularizando na região Norte e, agora, espalha sua chaga pelas cidades do Centro-Oeste e Sudeste. "Ela já chegou ao Piauí, à Paraíba, ao Maranhão, a Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro", diz Álvaro Mendes, vice-presidente da Associação Brasileira de Redução de Danos. Uma amostra da penetração da droga em São Paulo pôde ser vista na última quinta-feira, quando a Polícia deteve, na capital, um casal que carregava uma pedra de meio quilo de oxi.
     Ao menos duas característias da droga ajudam a explicar por que ela se espalha pelo país. A primeira é seu potencial alucinógeno. Assim como o crack, o oxi pode estimular em um usuário o dobro da euforia provocada pela cocaína. A segunda razão é seu preço. "O crack não é uma droga cara, mas o oxi é ainda mais barato, quando surge uma droga mais poderosa, mais barata e fácil de produzir, a tendência é que ela se dissemine". Isso ocorre especialmente porque não se criou no Brasil até agora um sistema eficaz de tratamento de dependentes.
     O lado mais assustador do oxi talvez seja a carência de dados sobre seu alcance no território brasileiro. Quem se debruça sobre o assunto, avalia que a droga atinge todas as classes sociais. "Não há um perfil estabelecido de usuário: ela é usado tanto pelos estratos mais pobres quanto pelos mais ricos da população", diz Ana Cecília Marques, psiquiatra da Associação Brasileira de Estudos de Álcool e Outras Drogas (Abead).
     Também faltam estudos científicos sobre sua ação sobre o ser humano. Por ora, sabe-se que, por causa da composição mais "suja", formada por elementos químicos agressivos, ela afeta o organismo mais rapidamente. A única pesquisa conhecida sobre a droga (conduzida por Álvaro Mendes, da Associação Brasileira de Redução de Danos, em parceria com o Ministério da Saúde) acompanhou cem pacientes que fumavam oxi. E chegou a uma terrível constatação: a droga matou um terço dos usuários no prazo de um ano.
     Além, é claro, do risco de óbito no longo prazo, seu uso contínuo provoca reações intensas. São comuns vômito e diarreia, aparecimento de lesões precoces no sistema nervoso central e degeneração das funções hepáticas. "Solventes na composição da droga podem aumentar seu potencial cancerígeno", explica Ivan Mario Braun, psiquiatra e autor do livro Drogas: Perguntas e Respostas.
     Por último, mas não menos importante, uma particularidade do oxi assusta os profissionais de saúde: a "fórmula" da droga varia de acordo com "receitas caseiras" de usuários. É possível, por exemplo, encontrar a presença de ingredientes como cimento, acetona, ácido sulfúrico, amônia e soda cáustica (muitos dos itens podem ser facilmente encontrados em lojas de material de construção). A variedade amplia os riscos à saúde e dificulta o tratamento.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Musica da campanha Crack Nem Pensar

Combate ao crack ajuda a diminuir criminalidade no RS
 
Estatísticas mostram que as campanhas despertaram a sociedade para a necessidade de cobrar soluções


A mobilização contra a epidemia de crack no Estado, que teve um reforço por meio de campanhas como a Crack, Nem Pensar, já contabiliza benefícios medidos não só em número de apreensões, mas também na queda na criminalidade.

Estatísticas mostram que as campanhas despertaram a sociedade, a qual, por sua vez, aumentou a pressão por soluções junto às autoridades.

A guerra contra o crack se intensificou justamente nos dois últimos anos, quando foi estimado que a droga já ameaça 50 mil famílias gaúchas. Segundo policiais e especialistas, a captura de traficantes, aliada ao desmantelamento de quadrilhas especializadas e de receptadores, reduz furtos e roubos porque tira das ruas os responsáveis por trocar os produtos dos crimes por droga.

— É perceptível para nós. Sem o tráfico, os elos vão enfraquecendo. Isso acaba diminuindo os casos de roubos e furtos praticados por usuários ou por pequenos traficantes — atesta João Bancolini, diretor do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), um dos principais órgãos gaúchos de repressão a entorpecentes.

Para a coordenadora do Departamento de Álcool e Outras Drogas da Associação de Psiquiatria do Estado, Carla Bicca, as mobilizações têm o mérito de induzir os governos a revigorar as políticas de saúde de tratamento. Mas pondera que o crack não é a única vilã, outras drogas também matam.

A receita da Restinga

Os efeitos positivos da mobilização social podem ser medidos no bairro Restinga, na zona sul da Capital. Articulados para combater o tráfico potencializado pelo crack, policiais e moradores começam a perceber um resultado que o Estado ainda não conseguiu atingir: o número de homicídios está caindo em comparação a anos passados.

Por trás da maior parte das mortes, os traficantes sofrem ataques em três fronts distintos. Além da repressão policial e da troca de informações entre agentes e moradores, escolas, instituições comunitárias e Brigada Militar têm investido na conscientização de crianças e adolescentes. Pelo menos 700 estudantes do Ensino Fundamental participam por ano do Programa Educacional de Resistência às Drogas e a Violência (Proerd), da Brigada.

— O que eles aprendem nas palestras é trabalhado durante o resto do ano com os professores — ressalta a diretora da Escola Estadual de Ensino Fundamental Nossa Senhora da Conceição, Sandra Schizzi.

O soldado Júlio César Santos de Souza explica que o trabalho desenvolvido na Restinga é diferente do executado em escolas de outros bairros cobertos pelo 21º BPM.

— Na Restinga, muitas crianças e muitos adolescentes vivem o problema dentro de casa. O assédio dos traficantes é maior. Por isso, temos de reforçar a autoestima desses alunos, para que tenham força de driblar as drogas. Não se trata apenas de dizer que faz mal — avalia o PM.

Fora das salas de aula, a aproximação dos moradores com as polícias se dá nos conselhos comunitários e no Programa Polícia Cidadã da BM.


Os números
Dados de janeiro a setembro na Restinga:
Prisões de traficantes pela BM
2008: 34
2009: 71
2010: 81
Homicídios
2008: 28
2009: 24
2010: 19

Campanha embala dois Estados

Lançada em maio de 2009, a campanha Crack, Nem Pensar mobilizou as comunidades do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina contra a droga que transforma jovens em mendigos, arrasa famílias e aciona o gatilho da violência. Teve o mérito de unir sociedade, instituições, especialistas e autoridades no enfrentamento ao que já é qualificado como epidemia pelo seu poder devastador.

A campanha serviu para alertar gaúchos e catarinenses para um quadro assustador: o crack vicia de imediato, liquida a saúde, humilha seus dependentes e apresenta um índice de recuperação quase nulo. A conscientização e as ações concretas nortearam a campanha. As peças publicitárias – criadas pela Agência Matriz, de Porto Alegre – expressam, por meio de imagens impactantes, situações de destruição física e moral.



As ações
- Calcula-se que mais de 1 milhão de automóveis, caminhões e motos circularam com o adesivo Crack, Nem Pensar
- Cerca de 250 mil cartilhas foram distribuídas em escolas
- Comunicadores, comentaristas e colunistas do Grupo RBS foram às ruas para divulgar a campanha
- Em 2010, na segunda fase, foram distribuídas pulseiras de silicone emborrachado, nas cores cinza, vermelho e preto, com a inscrição Crack, Nem Pensar
- Sob coordenação da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, o Portal Social contempla 20 instituições com projetos antidrogas.

FONTE RBS